segunda-feira, 31 de outubro de 2011

«Alenterra» - Comentário

Alenterra

Um outro livro sobre a guerra em Angola: Alenterra, de Rogério Pires de Carvalho.
Sugestivo o anonimato do narrador, em primeira pessoa, assim como o da ‘senhora’ a quem ele vai contando tudo o que lhe passou pela cabeça desde o dia em que embarcou até que iniciaram o regresso (nem todos, claro!), não sem um nó na garganta, por terem deixado atrás os dois canitos, inseparáveis companheiros dos longos dias dos longos dois anos em Mucondo… «Quanto mais conheço os homens…».
Não se relata apenas como um homem se pode ir transformando, até o simples sonho lhe ser impossível de ter. Nos muitos momentos de solidão, silêncio e medo, toda a vida do narrador ali perpassa, como um filme, desde que nasceu até que daqui o levaram.
Narrativa lancinante, esta – a prender-nos do princípio ao fim. Queremos saber tudo logo! Queremos consciencializar infinitos traumas. As cubatas incendiadas uma a uma. As fitas das metralhadoras despejadas num desespero. Guerra maldita – que jamais acabará na memória de quantos a viveram!


Publicado em Jornal de Cascais, nº 286, 19-10-2011, p. 4.

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