A Alfarroba é mais uma nova editora a nascer no mercado nacional, embora os seus ramos alcancem outras áreas, como a comunicação e a formação, por exemplo. O Diário Digital falou com Andreia Salgueiro, que promete oferecer ao leitor um objecto que vai muito mais além do que a sua simples leitura. Os dois primeiros livros serão lançados no próximo mês…
A Alfarroba vai lançar já em Outubro dois novos autores nacionais, concretamente Eugénio Bernardes, com «Um brinquedo para Aglael e Daimon, parte 1 e 2», e Marina Santos, «O Clube dos Exploradores». Para o próximo ano chegam os autores estrangeiros, num projecto que pretende lançar no mercado nacional cerca de três dezenas de obras no espaço de um ano. Apesar do baixo índice de leitura, a Alfarroba acredita que «há espaços para novos leitores e novos escritores», tudo porque «a taxa de leitura baixa significa apenas que o potencial para crescer é enorme». Segundo Andreia Salgueiro, «o Livro é Emoção».
Porquê decidiram criar uma editora? E como surgiu o nome «Alfarroba»?
Verdadeiramente a Alfarroba é um projecto que nasceu de um sonho. Toda a equipa trabalhava ou tinha trabalhado com livros, com letras, em comunicação, parecia-nos o caminho certo. A condição fundamental, para além do rigor literário, seria o rigor estético do livro, este tem de ser apetecível, o leitor tem de namorar com ele, gostar de lhe tocar, levá-lo para casa, pousá-lo e só depois lê-lo e guardá-lo.
Pretendíamos criar funções diferentes para cada livro, torná-los objectos únicos, acessíveis a todos, usar todos os sentidos na leitura do livro… A Alfarroba surgiu simplesmente assim, de uma ideia, de uma conversa à mesa, de uma vontade, de um gostar do que se faz. Só depois veio o nome. Neste campo aliou-se o gosto pessoal às características do fruto, da árvore, das folhas, do gosto… quase como se nascesse mesmo da terra. Assentámos assim na ideia da planta da alfarroba e pela associação da palavra «folha» a «livro», como está patente na nossa assinatura «folhas que se querem ler».
Quanto tempo demoraram a construir este projecto?
Este projecto vai estar sempre em evolução, o caminho dele é sempre em construção. A Alfarroba arranca em várias fases, começou-se pelas Edições e Comunicação e só mais tarde o caminho da Formação ganhará forças. A árvore tem de crescer… há que dar tempo. Mas o sonho e a vontade não perderam tempo… foi preciso apenas um mês para saber que as palavras precisavam de uma arrumação diferente.
Quantas pessoas fazem parte do mesmo e os cargos existentes?
Gostamos de pensar que somos muitos. Há pessoas que participam apenas em determinados projectos e que só mais tarde voltam a colaborar connosco. Mais do que falar na quantidade a Alfarroba realça a polivalência dos seus colaboradores, a envolvência no projecto. Todos os dias há novas pessoas e entidades que fazem parte do projecto, sejam autores, parceiros, tradutores, contabilistas, formadores ou editores. A Alfarroba é um todo.
Qual será a vossa política de distribuição? Pretendem estar em todo o país? Nas grandes superfícies, apenas nas livrarias,…?
A Alfarroba pretende chegar mais próximo de quem precisa do livro, esteja onde estiver. Pretendemos que o livro vá até ao leitor, queremos desenvolver a sua aptidão, torná-lo comprador e apreciador do objecto livro. Como já dissemos, o livro não acaba quando o texto termina e o livro é arrumado. Há actividades e dinamização junto à palavra escrita que é necessário fazer. Livrarias e espaços comerciais são apenas o primeiro caminho.
Qual a vossa filosofia? O que pretendem em concreto?
Pretendemos que se possa editar com qualidade, que se possa comprar livros a um PVP razoável, que a leitura chegue de forma única e apetecível. O livro tem de apetecer! A par da publicação de livros, o projecto Alfarroba desenvolve também outras actividades paralelas, mas em total harmonia com o foco editorial; Alfarroba Serviços – serviços de paginação, design gráfico, serviços de correcção e revisão... ; Alfarroba Comunicação – identidade corporativa, manuais técnicos/procedimentos; informação institucional... ; Alfarroba Formação – cursos de formação na área da escrita (curso de escrita criativa; curso de guionismo; curso de escrita para TV;...).
A conjugação de serviços reflecte-se na nossa posição no mercado.
Como analisam o mercado editorial em Portugal? O que tem de positivo e o que tem de negativo?
A edição tem ciclos, tem modas. Cada vez mais é possível ver no mercado todo o tipo de géneros literários, todo o tipo de escritores e autores. Várias vezes o problema subsiste pois os leitores são os mesmos, os mecanismos para cativar têm de ser mais eficazes e duradoiros. As tertúlias, os grupos, os clubes literários que se têm criado próximo de orientações literárias mais enfraquecidas comercialmente têm permitido a visibilidade e uma aproximação diferente junto aos leitores. Mesmo assim, o editor tende a fazer livros demasiado comerciais, se é que isso realmente existe!
E como pensam vencer no concorrido mundo dos livros? O que pretendem acrescentar ao mercado nacional? Quais os contributos que esperam dar ao mercado?
A Alfarroba faz livros para o leitor sem descuidar quem o escreve, o seu escritor. Essa premissa nunca pode ser esquecida. Para nós a relação escritor-editora-leitor é imprescindível para o sucesso, para o livro ser único e para as relações comerciais. A coordenação de todo este processo é muito bem alinhavada e estruturada. Não fazemos livros para as massas, fazemos livros para quem quer ler.
Quais serão as primeiras apostas da Alfarroba?
A Alfarroba lançará no mercado já em Outubro duas apostas na área da literatura nacional – novos autores: «Um brinquedo para Aglael e Daimon, parte 1 e 2», de Eugénio Bernardes, e «O Clube dos Exploradores», de Marina Santos.
O primeiro é um romance ficcionado, passado nas décadas de 40 e 50, começando em Moçambique e estendendo-se depois para a Lisboa da década de 50. Através de pequenos fragmentos da biografia de Eugénio Bernardes, maioritariamente relacionados com o amor, o sexo, o medo, a doença e a morte, este livro apresenta ao leitor uma panorâmica da vida social e estudantil em meados do séc. XX, permitindo ao leitor a elaboração de um retrato psicológico do seu protagonista.
O segundo é uma história juvenil de um grupo de sete jovens. Pretende ser o primeiro livro de uma saga de mistério, aventura e amizade. Destaca-se as características educacionais deste livro, pontuadas nas acções dos seus protagonistas. O jovem leitor terá oportunidade de se identificar com estes heróis, viver as suas histórias, viver onde a acção de desenrola, ou seja, o leitor jovem vai viver o livro.
Quais são os vossos principais objectivos em termos editoriais? Quantas obras pretendem editar por ano, por exemplo? Qual o número de exemplares por edição?
A Alfarroba desenvolverá várias colecções, devidamente identificadas através de um plano de edição.
Pretendemos lançar no mercado nacional três dezenas de obras no espaço de um ano. Primeiras obras de autores portugueses e, em 2011, a concretização de um projecto com autores estrangeiros.
Como explicam a existência de dezenas de editoras num país onde a taxa de leitura é baixa?
Continua a haver leitores. Continuam a haver actividades relacionadas com a leitura. Continua a haver interesse na sua difusão. A leitura não é só cultura, é também aprendizagem, criatividade e interacção. Não podemos descuidar a participação em tudo isto. Cada vez se vê mais pessoas a ler no metro, nos jardins, nas paragens de autocarro. Explodem fenómenos como o book crossing. Há espaços para novos leitores e novos escritores. A taxa de leitura baixa significa apenas que o potencial para crescer é enorme. O Livro é Emoção.